Não posso dizer com certeza (e para que só dizer algo quando se tem certeza?) se o critério ou argumento que justifique o Vegetarianismo ou a Ética da Terra ou a Ecologia Profunda seja o sofrimento inegável dos seres (e para que a necessidade de utilizar-se de argumentos ou lógicas para tornar um discurso sério?). Não, não posso dizê-lo. Não por meio de lógicas ou argumentos nem com a qualidade de uma certeza (por que meu discurso não pode ser válido se discursado de outras maneiras?). Muito menos sei se existe discurso fora de uma lógica argumentativa porque talvez isso seja intrínseco ao mundo simbólico no qual se sustenta a linguagem e logo o discurso. Então tudo bem, eu não digo nada. Mesmo porque, isso que eu gostaria de dizer, só pode ser sentido e olhe lá.. Então eu queria comunicar que eu sinto que o Vegetarianismo ou a Ética da Terra ou a Ecologia Profunda não precisam ser justificados, muitos menos embasados ou fundamentados. Não precisam sê-lo, simplesmente; e especialmente não precisam sê-lo em algum paradigma simplesmente porque talvez jamais tenhamos acessos (ou mesmo não existam) paradigmas isentos da cultura humana que é algo muito pontual e posterior na história da Vida. Cada vez que eu tento falar ou escrever sobre essas coisas com alguém, com um computador ou folha ou comigo mesmo é sempre assim: confuso, complexo, indefinível, interminável, circular, redundante, sem sentido e coisas do tipo. Acho que é porque o que eu gostaria de dizer ou escrever, infelizmente, não pode ser dito ou escrito. É muito menos extremamente difícil explicar porque eu torço para a Argentina, porque eu acredito que sexo seja diferente de amor, porque eu às vezes penso na seta do tempo de múltiplos sentidos e dimensões e essas coisas todas que não me largam e que, independente do meu desejo, me constitue Sim, eu acho que minerais podem sofrer. Sim, eu acho que idéias, que conceitos podem sofrer.
Sim, eu acho que o luar ou o entardecer podem sofrer. Sim, o "cair" de uma folha pode ser experienciado, por este "cair" de uma forma extremamente sofrida. Acho que a idéia hinduísta de Acho que a idéia hinduísta de Ahimsa fala um pouco disso, de como podemos, com ações, minimizar esses sofrimentos. Sim, eu acho que esses sofrimentos também são seres, sim eu acho que esses sofrimentos também sofrem. E acho também que intrinsicamente todo sofrimento existe lá o potencial de um sentimento muito positivo (não, não estou falando de amor nem de algo que seja o equivalente positivo do sofrimento; nem mesmo escrevi sobre "bom" e "ruim" e coisas do tipo). Acho que essa idéia de Ahimsa anda de mãos dadas com o Vegetarianismo, com a Ética da Terra e com a Ecologia Profunda. Acho que eu preciso descobrir uma maneira nova, original, verdadeira de me expressar que não passe pelas delimitações simbólicas da palavra, da escrita, do gesto ou mesmo da música. Não sei se um conteúdo tal exige uma linguagem tal e um conteúdo tel exige uma linguagem tel mas pode ser por aí. Seria preciso, talvez, não ser humano para consegui-lo. Talvez por isso, isso tudo seja tão difícil de sentir.