Tenho feito muitas coisas simples tentando tirar de todas elas um sabor especial do tipo morango, manga ou mesmo beijo. Não acredito que estou tendo sucesso. Foi bom tomar três copos de 500ml de suco ontem (maça, morango, goiaba), foi bom ter deitado na grama da universidade tentando driblar a dor de cabeça de um dia seguinte de bar e humilhação de PMs (como é bom quando as coisas se invertem e eles sim são os humilhados finais), é bom estar namorando com a Nandita, é bom estar aqui escrevendo isso ao som do último CD do Dominatrix, mas sinto falta de algo. Hoje é aniversário de 32 do meu irmão e sigo perguntando-me como estarei com uma idade dessas. Não falta muito tempo, isso é fato. Se eu demorei muito para ter coragem de assumir de fato minha vida, não a tenho ainda. Eu podia ter ido morar em outros lugares antes, quando ainda tinha esperanças, quando ainda acreditava nos humanos, quando ainda podia comer doces sem me sentir mal antes, durante e depois de come-los. Muitos pacientes com os quais eu trabalho talvez invejem minha idade, minha "juventude".. e eu as vezes olho para eles e fico me perguntando sobre o sentido do envelhecer, sobre o sentido mesmo de iniciar uma vida e senti-la indo embora inevitavelmente. Acho que eu sempre tive muito mais MEDO da vida e de viver do que da morte e de morrer. Não há coragem nesse corpo magro com razoavelmente muito pêlos, menos coragem ainda nesse coração razoavelmente fraco para esportes de verdade. Eu tinha de ter me mexido mais, talvez por isso tocar viola e música erudita não preenche-me tanto quanto guitarra e punk rock. Eu perdi muito tempo acreditando. Eu perdi muito tempo não realizando. Demorei muito tempo para viajar de carona e talvez as duas primeiras vezes que isso aconteceu talvez tenham sido as duas últimas também: não tive coragem para faze-lo em plena maravilhosa Ruta 12 (e logo quando eu acabara de ter tido um acidente, ou seja, nem os olhos brilhantes da cara de morte conseguiram me fazer ali acordar!). Talvez nunca mais eu tenha de novo as oportunidades que eu tive. Minha história é um círculo vicioso de guerras por oportunidades e renúncia (involuntária!!) exatamente dessas oportunidades. Geralmente as perco por estar triste ou sentindo-me sozinho. Odeio tristeza, odeio solidão. Foram esses sentimentos que desde muito tempo fizeram com que eu perdesse oportunidades. E eu perdi, acreditem, muitas. Tive muitos QUASES; quase fiz muitas coisas maravilhosas. Tudo que eu quero hoje eu achei que teria no máximo até os meus 17: sentir o sabor da vida. É tão simples que torna-se impossível. É tão óbvio que torna-se de impossível compreensão. "Oh.. I have a dream and I want to share it entirely.." (Dominatrix